O óbvio não vai ajudar você

A melhor forma de investir é quando fazemos isso como se estivéssemos num negócio. Foi isso que Benjamin Graham nos ensinou. Seu livro, The Intelligent Investor, é considerado por muitos como o melhor livro sobre investimento já escrito. Foi publicado originalmente em 1949, e continua editado até hoje, tendo sido recentemente atualizado carinhosamente por Jason Zweig.

Alguns podem pensar que o livro que é considerado o “supra-sumo” dos textos sobre investimentos já escritos deva abordar coisas complexas e efêmeras. Ao invés disso, o objetivo do Intelligent Investor é muito simples: ajudar o investidor a construir as bases para poder investir em títulos e ações. Não existe nenhum discurso sobre osciladores de qualquer tipo, não é feita qualquer menção sobre força relativa, e não há nenhuma dica sobre finanças estruturais.

Minha filosofia de investimento mudou quando li uma linha do Intelligent Investor. Ela dizia: "Perspectivas óbvias no crescimento físico de um negócio não se traduzem em lucros óbvios para investidores”.

Tradução: Se você está procurando investir em companhias que possuem, por exemplo, um potencial de crescimento espetacular, tem que se certificar que este potencial de crescimento não tenha sido ainda precificado. Se todo mundo sabe que a companhia irá crescer 15%, então este crescimento já estará computado no preço da ação. Comprar o óbvio não irá necessariamente te levar para a terra prometida. Um exemplo de Graham ajuda a entender.

Em 1949, o setor de companhias aéreas era o de crescimento óbvio. Sim, a Delta (NYSE: DAL) e a Continental (NYSE: CAL), e outras tantas companhias aéreas domésticas e internacionais são hoje muito maiores do que eram a seis décadas atrás. Esses negócios quase nunca foram arapucas para investidores. Por que? Primeiro devido a suas características econômicas, e segundo porquê o crescimento econômico que se esperava que fosse acontecer, aconteceu, só que já estavam completamente precificados nas ações.

Procurando por exemplos parecidos nos dias de hoje? A Sirius Satellite Radio (Nasdaq: SIRI) está crescendo e, devido a sanções governamentais, se tornou um duopólio junto com a XM Satellite Radio (Nasdaq: XMSR), ela tem o que pode ser descrito como uma fossa, repleta de crocodilos, tartarugas ferozes, pestes, e um terrível mal cheiro ao seu redor. Ninguém vai querer cruzar a ponte levadiça que leva até o reino da Sirius. Sabe o que mais, as pessoas adoram rádios via-satélite. Existe crescimento e proteção. O que mais um investidor poderia querer?

Hoje me parece que cada pedacinho desse crescimento já está embutido no preço da ação. As pessoas que tomam conta da empresa terão que fazer algum esforço sobrenatural para gerar valor acima das expectativas. Será que conseguirão? A possibilidade certamente existe. Mas, mesmo que ela consiga crescer a taxas superiores que as de hoje, terá que superar o que já está implícito nas expectativas atuais - Expectativa essas que são bastante óbvias para qualquer um que esteja gastando mais do que alguns segundos pensando sobre a companhia.

Então isso quer dizer que precisamos nos focar em coisas pequenas, certo? Valor não aparece na superfície, temos que mergulhar mais fundo.


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